Como evitar que seu escritório se torne um zoológico humano

O psicólogo, pesquisador e consultor de escritórios britânico Nigel Oseland, tem sido por anos um porta-voz do escritório paisagístico. Ele tinha produzido artigos, conferências, seminários e publicações, mas não um livro – pelo menos não em mais de 20 anos. Em setembro de 2021, foi lançado seu guia para o atraente, saudável e produtivo escritório: "Beyond the Workplace Zoo: Humanising the Office” (Além do zoológico de trabalho: Humanizando o escritório)

Todo autor reconhece o valor e importância de um título intrigante. Por essa perspectiva, Nigel Oseland foi bem sucedido. Zoológico de Trabalho (The Workplace Zoo)? O que ele quer dizer com isso? Ao ler esse título me vem a cabeça David Brent e seus funcionários na série The Office. No entanto, não foi essa a intenção de Nigel Oseland. Ele explica: 

"É mais como os tipos de confinamentos associados ao clássico zoológico: gaiolionhas com animais vivendo em uma condição não tão boa e sem escolhas. Um dos maiores problemas que enfrentamos com escritórios é a densidade e gestores obcecados com a redução de espaço para economizar dinheiro. Mas a construção deveria estar lá para auxiliar as pessoas. Deveríamos olhar as necessidades das pessoas e construir o espaço em torno disso. 

Nigel Oseland, psicólogo britânico e consultor de áreas de trabalho.

Cidades são como zoológicos humanos

O nome do livro remonta até o zoologista e etólogo britânico Desmond Morris, que no fim dos anos 60 publicou os livros The Naked Ape (O Primata Nú) e The Human Zoo (O Zoológico Humano). Este primeiro livro explora as qualidades animalescas da humanidade e sua semelhança com outros primatas. O segundo analisa o comportamento humano na grande sociedade moderna e sua semelhança com o comportamento animal em cativeiro.

"Ele reagiu ao aforismo de que pessoas na cidade estão vivendo em selvas de concreto. Elas não estão. Uma selva é um ambiente natural. Ao contrário, com cidades de alta densidade e superlotadas as pessoas agem mais como animais cativos no zoológico. Desmond Morris chamou isso de zoológico humano."

Podemos aprender com zoológicos modernos

Nigel Oseland foi também inspirado pela psicologista ambiental americana Judith Heerwagen. Ela afirma que os escritórios podem aprender com zoológicos modernos, onde o cuidado com animais é central e é oferecido a todas as especies o ambiente e as necessidades para o seu desenvolvimento. Nigel mesmo ficou impressionado por um zoológico que visitou anos atrás com os filhos.

"Cada recinto foi construído especificamente em torno das necessidades de cada espécie. Eles podem escolher se querem estar expostos ou se esconder, tem uma ampla vegetação, a temperatura correta, a quantidade correta de luz solar e por aí vai. Tinham muitos animais jovens e um bom programa de acasalamento também. Era uma maravilha. Então, retornei ao meu escritório e encontrei um mar de mesas num ambiente tedioso e denso onde todos estavam expostos. Assim não funciona, pois somos todos diferentes. Nós somos uma só espécie, mas somos animais bem diferentes com necessidades bem diferentes."

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Agora, após a pandemia, temos a oportunidade de criar um novo ambiente de escritório, o que eu chamo de escritório paisagístico.

Nigel Oseland

A oportunidade para um escritório paisagístico 

A analogia do zoológico de Nigel Oseland se refere principalmente a essas condições de hiperdensidade e de colocar todas as pessoas em um só espaço, sem liberdade de escolha. Claro, a analogia não é válida para todas as circustâncias e aspectos de um zoológico com um escritório. A mensagem que Nigel Oseland quer passar é que arquitetos, gerentes de instalação e manutenções de empresas devem alcançar algo além deste escritório zoológico.

"Se você tem dois extremos:um escritório completamente aberto ou um totalmente fechado, provavelmente não irão funcionar. Deve ser apropriado para uma minoria, mas a maioria de nós está no meio termo. Agora, no pós-pandemia, temos a oportunidade de criar um novo ambiente no escritório, o que eu chamo de escritório paisagístico" Diz ele.

 

Liberdade de escolha

O escritório paisagístico é ainda um projeto de escritório aberto só que menos denso. A hiperdensidade é um problema que Nigel continua relembrando.

“Isso causa problemas com barulho, espaço privado e infecções. O escritório paisagístico tem mais divisórias, espaços divididos por móveis, plantas, espaços para reuniões, áreas de descanso e diferentes tipos de apresentações" Ter  liberdade de escolha é a essência do escritório paisagístico, explica Nigel.

“Não fui eu quem inventou totalmente isso. Nas décadas de 50 e 60 o 'Bürolandschaft' e o 'Action Office' estavam no caminho certo. Incluiam telas e tinham mesas em aglomerados de dois ou três, não oito, dez ou até doze que vejo frequentemente hoje em dia. É hora de reviver estes projetos de escritórios abertos e modernizá-los. Atualmente sabemos muito mais sobre acústica, iluminação, qualidade de ventilação e princípios biolíficos para a criação de um ambiente saudável. O escritório paisagístico oferece uma liberdade de escolha para as diferentes necessidades e tarefas além de compartilhar o espaço."

Feitas no pós-pandemia, pesquisas recentes com profissionais da área imobiliária preocupam Nigel Oseland.

”Eu vejo respostas do tipo: 'agora nos livramos de metade do espaço.' mas o fato é que os espaços já são bastante densos. Agora é uma oportunidade de reduzir o número de mesas ao invés disso e usar o espaço para atividades colaborativas e sociais como também áreas para focar no trabalho. A resposta é não se livrar do espaço." Enfatiza.

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Creio eu que o trabalho híbrido se tornará a norma, a pandemia forçará as empresas a seguirem nessa direção.

Nigel Oseland

Escritórios precisam ser atraentes

Para que as pessoas retornem aos escritórios após a pandemia será um desafio para várias empresas. O trabalho de casa libera muito tempo. Em cidades grandes como Londres, o tempo das conduções pode facilmente chegar a duas ou três horas por dia. Essa é uma razão para os empregadores tornarem seus escritórios atrativos para as pessoas.

“Creio eu que o trabalho híbrido se tornará a norma, a pandemia forçará várias empresas a seguirem nessa direção.Mas trabalhar somente de casa não é solução. Empregadores devem atender as diferentes necessidades 'animais', para que os empregados queiram mesmo ir para o escritório ao invés de evitá-lo. Se você trata o escritório como um serviço, as pessoas retornaram. Nós somos animais sociais; contamos histórias, compartilhamos informações e nos alimentamos juntos. A ideia de que o escritório morreu é bobagem."

Biophilic design

Biofilia – a parte natural

Nigel usa o termo escritório paisagístico não somente pelas divisórias e variedade de locais. Também o usa para incluir a ideia de biofilia – um escritório mais verde. Ele se refere a biofilia como um aspecto da psicologia evolucionária. 

“A ideia de psicologia evolucionária é que nossos corpos e cérebros se desenvolveram para sobreviver nas savanas da África. Nós ainda temos preferência por aqueles ambientes, mesmo que nossos corpos estejam cativos pelas últimas centenas de anos em gaiolas de escritórios."

Ele enfatiza que biofilia não se trata apenas de plantas e folhagem.

“É uma parte importante, mas é muito mais do que só isso. Se trata do certo ambiente e níveis sonoros, ventilação natural, variações na temperatura e a quantidade correta de luz solar. Você precisa criar áreas com diferentes níveis de temperatura, barulho e iluminação, para que os 'animais' possam escolher qual das áreas eles se sentem mais confortáveis e com isso mais produtivos."

Um bom volume de avisos

Beyond the Workplace Zoo (Além do Zoológico de Trabalho) é um volume bem interessante de 200 páginas. Nigel se esforçou para reduzir o conteúdo. Uma das causas principais tem sido fazer pesquisas sobretudo psicológicas, mas também sociológicas e antropológicas acessíveis e legíveis. Além de interpretar e explicar muito da pesquisa acadêmica, o livro é fruto de mais de 30 anos de experiência. Logo, contêm uma variedade de avisos práticos em como projetar escritórios.

“Eu não sou um designer, mas o livro oferece até que um bom número de conselhos de como fazer isso" modestamente resume. 

 

Texto: Lars Wirtén

 

Cinco dicas de Nigel Oseland

  1. Acolha a individualidade, reconheça que somos todos diferentes. Não projete de forma mediana. Providencie escritórios com escolhas e ajustamentos diferentes.
  2. Balanceie corretamente. Não foque apenas em economizar espaço e dinheiro. Olhe também para o outro lado da balança – como aprimorar o ambiente de trabalho para os outros.
  3. Engaje e escute seus funcionários. Nunca presuma que você sabe tudo e que as suas necessidades são as mesmas dos outros
  4. Reduza a densidade! Baixa densidade é melhor em termos de acústica, espaço privado, conforto térmico, infecções, etc. Pare de amontoar pessoas em grupos de oito ou mais.
  5. Dê uma olhada nas condições do seu ambiente. Pesquisas demostram que a maioria de problemas no escritório são barulho, condições térmicas e qualidade de ventilação.